Talvez não haveria humanos se não houvesse cores: foram elas que nos ajudaram a notar o contraste de predadores na natureza, saber quando um fruto estava maduro ou correr daquele sapinho colorido que é chumbinho com pernas.
A necessidade das cores está tão enraizada na espécie humana ao ponto de guiar nossas escolhas até hoje (não é por acaso que toda mulher fica mais bonita de vermelho), e por isso ela impacta todas as nossas preferências de compra.
Hoje discutiremos como as melhores marcas do mundo combinam cor e branding para fisgar otários como eu e você, que fingem não acreditar serem escravos do próprio cérebro.
Tópicos do Artigo
Alinhe a cor com o caráter da marca [1]
Uma marca que usou cores como NINGUÉM até hoje foi a Apple, que já focava na experiência do cliente numa época em que o branding ainda estava engatinhando.
Um exemplo disso é o iMac G3 de 1998, que contrariava o padrão monocromático P/B do mercado e trouxe computadores coloridos que apelavam ao senso estético do usuário:
O iMac G3 viralizou como nenhum outro produto e algo inesperado aconteceu: tudo no mercado começou a ser colorido do dia pra noite! Em pouco tempo até estojos e aspiradores de pó estavam imitando o G3 ao ficarem coloridos e transparentes—como se a Apple tivesse acabado de ensinar ao mundo que é possível vender usando cores.
“Como se” não, foi exatamente isso! O único diferencial dos computadores da época era o fato de um ser cinza e o outro bege, cada um com seu palavreado técnico que não significa nada para o usuário comum. (Que acaba focando na estética.)
Embora isso tenha sido revolucionário para o mercado, tudo era um mero cumprimento do Branding da Apple de “ser inovadora e desfiadora”! 😉
Cor do Logotipo VS Cor do Branding [2]
O azul da Tiffany & Co. foi patenteado e é a cor mais desejada do mundo, e isso se deve a um detalhe curioso: ele quase nunca dá as caras na identidade visual da marca!
Aliás, é difícil cruzar com o famoso azul No.1837 até mesmo nas lojas da Tiffany, que tendem a ser minimalistas como toda loja de jóias. Por isso só há duas maneiras de obtê-la: comprando uma joia ou entrando no eBay, onde a caixa vazia pode custar 400 reais!
Isso tudo porque a cor é parte da experiência do usuário, como se ela também fosse uma joia que só pode ser apreciada por quem tem o privilégio de ser uma cliente da Tiffany.
Cor para o Consumidor, Não o Empreendedor [3]
Geralmente o designer quer uma cor e o cliente quer outra. (O cliente final que se f***, né?) Mas isso infelizmente não é questão de escolha:
O designer deve ter em mente que sua preferência de cor é irrelevante e o mesmo vale para o cliente, porém com ressalvas: ele conviverá com ela por ser o dono da marca, então é claro que ele irá descartá-la caso o sucesso da escolha não seja indiscutível.
Por isso é muito importante que o designer explique a teoria das cores e suas emoções para que não haja arrependimentos e até quebra de contrato no meio do caminho. Esteja preparados com dados sólidos, como..:
- O roxo/lilás é amado por mulheres, mas bem rejeitado por homens;
- O azul é bem aceito por todos, mas muito mais por homens;
- O laranja é enérgico, mas não agrada a maioria das mulheres.
Vocês podem contrariar tudo isso? Sim, como fica claro logo abaixo. 😉
Desafiando a Teoria das Cores [4]
O vermelho é uma cor agressiva, passional e muitas vezes relacionada a catástrofes… Vendo assim, é a última cor no mundo que a Nesté deveria adotar, né?
Deixa essas associações rasas para os leigos. Você tem a obrigação moral de interpretar caso a caso e saber quando é possível ousar e surpreender o público (como a Apple)!
Para te ajudar a entender seus limites, aqui vai uma infográfico com o significado das cores em diferentes culturas, para você se guiar em seus próximos trabalhos.
Em vez de te dar uma longa explicação, eu vou resumir em uma dica: só rejeite uma cor quando ela for ridículamente inapropriada (tipo rosa numa loja de rock). Todos os outros casos devem ser analisados individualmente pois pode haver grandes oportunidades.
Fortaleça a sua Cor [5]
Quantas tempo você passa rolando o feed do seu Facebook / Twitter sem interagir com absolutamente nada? E quantos posts/marcas você ignora por não reconhecê-las de cara?
Isso ocorre porque muitas marcas são aleatórias em sua comunicação: uma hora tem uma foto, uma hora é a cor X, outra a Y e etc., tornando bem difícil de saber se o post é daquela página “topzeira” ou daquela sua tia que te convidou só pra poluir teu feed.
É por isso que as marcas gigantes forçam suas cores em tudo que é canto até que você as reconheça sem nem ver o nome—como ficou claro na campanha do McDonald’s que transformou o logo em sinalização de trânsito.
Bônus: Seja Radical!
Quem patentearia a cor rosa para uma marca de telecom? Eu não, mas a T‑Mobile faria e se mantém tranquila entre as empresas mais bem-sucedidas do mundo até hoje!
Eu vou me repetir, mas é porque é necessário: a cor é uma das melhores formas de se diferenciar no mercado, principalmente em prateleiras, como você pode ver abaixo.
Eu não sei para você, mas pra mim o único produto que chama atenção em toda essa gôndola é o pote rosa da Temp Tee.
A cor é ridícula (cabe você a escolher um tom melhor), mas ela facilita identificar algo diferente entre as opções—o que é particularmente útil com produtos genéricos* ou em tempos de crise, quando estamos procurando versões mais baratas de tudo.
* Quando digo “genérico”, me refiro ao grau de envolvimento na compra. Nós do marketing dizemos que há 3 tipos de produtos: os de baixo, médio e alto envolvimento.
Baixo: um biscoito, uma manteiga, e qualquer coisa que você compra por mero hábito. Médio: não serve qualquer um, mas você não perde meses pensando nisso. (Ex: roupas.) Alto: tudo que você pensa muito antes de comprar. (Computadores, celulares, planos…)
Quanto mais genérico o produto, maiores as chances de você manipular a escolha do cliente e levá-lo a uma compra, entre aspas, “por impulso”.
O que você achou dessas dicas sobre cores no branding? Tem algo a adicionar? Abra o coração com a gente aí nos comentários! 😀