“Griffe”, “finesse”, e “chic” são apenas algumas das palavras francesas que o mundo adotou devido à alta sofisticação gráfica do país, então fica uma pergunta: será que isso também se reflete no design gráfico francês?
O estilo francês de design é bem diferente do design americano com o qual estamos acostumados, sendo bem carregado do background artístico que formou lendas como Monet, Renoir, e outros artistas franceses.
Tentar definir o design francês é um exercício quase tão vão quanto definir o que é arte, mas isso não significa de maneira nenhuma que não não vale à pena tentar, então vem comigo! : )
Designs de Finesse
Sabia que as melhores universidades de design francesas sequer te aceitam se você não souber desenhar?
Isso se deve ao glorioso passado artístico da França que não só apenas marcou época como mudou os rumos da arte do mundo, estando esse orgulho nacional tão enraizado que ele acaba por ser refletir no estilo de design do país.
▲ Dá para acreditar que isso é uma capa de CD? Ela foi desenvolvida pela Yeaaah! Studio para a banda Crown Cardinals. Ela é toda feita à lápis e combina estilos dos séculos 19 e 20, com uma rebuscação que casa perfeitamente com uma banda de metal melódico.
Acima temos a Vespertine da Björk, que traz um p/b refinado com leves traços sobre a fotografia — coisa que eu nunca nem vi em solo tupiniquim.
Uma Pegada Fotográfica
Boa parte do legado da fotografia vem da França, e foi inclusive no Brasil em que Antoine Hercules Romuald Florence criou a câmera escura e o que ele batizou de Photographie — nos tornando pioneiros na fotografia em 1883!
Junte isso ao passado Renascentista do país e o que temos é um uso primoroso da fotografia que vai desde à aplicação até a criação de portfólio.
Inspirada no estilo barroco, a Graphéine criou a Identidade Visual da capela Haute-Normandie usando fotografias sobre círculos pretos e dourados (uma alusão ao sol e a lua), elevando a capela ao sublime!
É justamente essa sofisticação que levou a agência a fazer o novo logo de Paris. ; )
▲ O portfólio da Say What Studio usa fotografias para valorizar suas artes, o que é uma prática comum entre designers franceses.
Note que todas as artes são bem simples, talvez até sem-graça se vistas isoladamente, porém graciosas ao combinar grid e fotografia.
Storytelling Visual
O berço da Revolução Francesa não poderia deixar história de fora do seu design, usando o storytelling de forma visual para criar narrativas que todo espectador sente uma vontade imediata de decifrá-las.
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Acima temos um cartaz da Eurostar (linha ferroviária que liga Londres e Lyon), na qual o designer Maïte Franchi ilustra ícones da cidade francesa que formam uma pequena narrativa para os turistas decifrarem e mergulharem na cidade.
O mesmo acontece com essa ilustração de Fiodor Sumkin para a Nike, na qual todo o processo de uso e reuso da empresa de materiais é representado graficamente, poupando o leitor de ter que ler intermináveis páginas de texto corrido.
Cliché é só uma palavra
O design francês abomina a mesmice e isso se reflete em sua publicidade, que frequentemente é destaque nos nossos posts de melhores campanhas do mundo.
Comparado a nossa campanha Momentos Espetaculares, esta é a aparência de um alligator nos Estados Unidos.
Eu não faço a menor ideia do que a campanha acima realmente significa, mas pode se referir ao Passat Alligator e ao nível “predatório” das ofertas francesas (teoricamente superiores aos USA).
Aqui o designer Maud Vantours usa apenas papel — dobrado, cortado e trançado — para simular bolsas com volume e textura. Essa sofisticação artesanal agrega valor a essas bolsas que são feitas à mão pela griffe em questão.
Visuais Surreais
O estilo surrealista (nascido na França) obviamente se reflete no design gráfico francês, dando origem a cartazes de deixar qualquer espectador coçando a cabeça:
Aqui o Salins Theater cria uma série de cartazes inspirados nas estações de ano, com itens clássicos do tal período, mas sempre com uma figura do ano indecifrável — que você pode até não entender, mas também não pode ignorar.
Aliás, que uso maravilhoso de cores complementares, hein?
E acima temos um design de capa da famosa revista Fricote, que cria uma pirâmide usando uma gema de ovo. Qual é a ligação entre Egito e culinária? Tanto faz, haha!
Tipografia Artística
A essa altura, você já deve ter percebido que eles amam subverter tudo, e isso afeta a tipografia francesa que é cheia de experimentações insanas.
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Acima, um cartaz de Catherine Zask para o Concert Sauvage (Concerto Selvagem), o que dá origem a esse uso tão rústico / agressivo da tipografia.
Na velha discussão design vs arte, esse cartaz estaria bem mais pra arte (já que a leitura fica comprometida), mas quem disse que o design gráfico francês liga pra isso?
Acima temos uma capa da Redux, que foi toda feita à mão! Os designers Paul e Martin usaram um gel para escrever o nome da revista, dando profundidade ao design (mesmo para nós que estamos vendo por telas).
Artes Distorcidas
Para te prender ainda mais nas artes, o estilo francês te provoca intelectualmente ao te forçar a interpretar imagens propositalmente distorcidas!
O que você vê acima é uma cartaz de Laura Normand para o Festival Photo Ratée. A distorção aqui faz todo sentido: o nome do festival é “foto falhada”, e a designer representou isso de maneira bem criativa e elegante ao fatiar a fotografia.
Essa é a capa de “O Trabalho (à Obra)”; a Formes Vives colocou imagens de pobres trabalhadores do terceiro mundo sendo rasuradas, o que abre margem para numerosas interpretações ao julgar pelo nome do livre.
Design Artístico
Você já deve ter ouvido falar que o design gráfico te oferece interpretações, enquanto a arte te abre caminho para elas, porém essa linha é bem mais borrada para os franceses.
A arte francesa é tão enraizada nos designers locais que as peças publicitárias frequentemente focam mais no prazer de vê-las do que na entrega da mensagem, como visto logo abaixo:
Essa é a revista L’Édition da Avant Post, diretamente inspirado nas obras do grande Henri Matisse.
É óbvio que estar fora da cultura francesa deixa tudo ainda mais difícil de interpretar, mas você há de concordar que esses cartazes são confusos de qualquer maneira.
Acima, um cartaz para o “Teatro dos Bouffes do Norte”, com visual 100% artístico!
Embora não seja uma referência a nenhum pintor específico, esse cartaz da Violaine & Jérémy focou todo seu design no uso da aquarela que tanto vemos nas aulas de arte!
Bouffe: nome dado a cantores de operas cômicas.
Provocações Visuais
Você provavelmente também ouviu falar que o design gráfico dá respostas, enquanto a arte levanta questionamentos — e os franceses também ca*** pra isso!
O design francês brinca diretamente com suas emoções e presunções, não se preocupando em te confundir ou chocar se necessário for.
Criado pelo Young & Rubicam, o cartaz acima foi feito para o International Fund for Animal Welfare, e ilustra um orangotango sendo impresso por uma impressora 3D.A frase da campanha é: “nem tudo é fácil de se criar”.
Finalizando, temos o cartaz “Cidade Por Pessoas Cegas” de Laura Normand, que nos questiona como formalizar os sentimentos de pessoas cegas na arte.
Aqui o objetivo é irritar as pessoas comuns: sendo tudo noisy e com braille gigante, a designer quer que você sinta um pouco do desconforto de um mundo sem acessibilidade.
O que você achou?
Alguma coisa do design francês te impressionou ou mesmo te inspirou para um job que você tem hoje?
Tem muita coisa bastaaante diferente do design suíço (talvez maior influência brasileira hoje), mas isso é ótimo pois abre os seus olhos para novas possibilidades — talvez justamente as que faltam para você ser o percursor do tão esperado “design brasileiro”.
Então nos ajude a levar esse conhecimento para o mundo: é só compartilhar o post e também suas dúvidas e impressões nos comentários! 😉