Você já pesquisou sobre Design Thinking e achou meio inútil no teu trabalho? Há até quem diga que DT não tem nada a ver com design!
Eu também sofria desse problema quando ainda era designer gráfico — inclusive fiz até curso de DT que não mudaram a minha percepção em nada — porém tudo mudou quando eu migrei para UX Design.
A real é que o Design Thinking é um processo criativo bastante simples que pode ser aplicado a praticamente tudo (daí os textos super genéricos que você vê por aí), e agora eu vou te mostrar como ele pode ajudar você!
Tópicos do Artigo
O que significa “Design” Thinking?
Como eu falei lá no post de etimologia “Logomarca existe até no Japão, mas no Brasil não?”, tem muito designer aí pagando de etimólogo sem sequer saber o que significa a palavra “design”. Aí complica, hein?
É importante esclarecer que “design” não tem nada a ver com arte, desenho nem estética (que torna a tradução “Desenho Industrial” absolutamente patética), mas sim com projeto. Aliás, a palavra surgiu como um verbo!
Desde o século 14 que a palavra “design” significa “formar um plano ou esquema de; conceber e organizar em mente; formular mentalmente, planejar e executar” — ou seja, a estética é só uma gota no mar de atuações do design.
É daí que vem a popularização da palavra em textos de engenharia e em outros lugares mais polêmicos, como o Cake Design e o design de unhas. (Essa última é foda, né?) Às vezes irrita, mas a real é que quase tudo é design!
Tendo isso em mente, conclui-se que “Design Thinking” significa “processo de pensamento de projeção” — ou “mindset de projeto” — e como todo designer gráfico projeta, é claro que o DT é útil para eles!
O que é Design Thinking?
O Design Thinking é um processo de resolução de problemas criativo focado em atender necessidades humanas.
Há mais de uma modalidade de DT, mas vamos focar na mais popular que foi criada pela IDEO em 1978, quando começaram a praticar o chamado Design Centrado em Humanos — ou Human-Centered Design.
Essa filosofia de Design Thinking se pauta em 5 etapas de projeto que são sustentadas por 3 princípios, sendo o Desejo (seu design é necessário?), Viabilidade Técnica (você consegue resolver esse problema?), e a Viabilidade de Negócio (vale a pena investir nisso?).
Como você pôde ver, o Design Thinking é bem-sucedido quando equilibra esses três pilares, porém tudo começa com as necessidades do público-alvo — que é outra coisa que os designers gráficos estão cansados de saber!
Quais São as Fases do Design Thinking?
As 5 fases do Design Thinking são Empatizar, Definir, Prototipar, e Testar.
Aqui já vale um disclaimer importante: não há regras definidas para nenhuma das fases, seja em questão de tempo ou métodos aplicados nelas.
É por isso que muitos dizem que o Design Thinking é uma filosofia, ou até mesmo um framework: uma base-guia para você montar o seu processo ideal, variando de acordo com cada projeto. A única regra é o teu bom senso!
E aí eu já tenho que te avisar que, embora eu tentarei ser o mais objetivo que eu puder, só quem conhece o seu trabalho é você. A aplicação fica para você resolver. 😉
Design Thinking Etapa 1: Empatizar
A primeira fase do Design Thinking é criar empatia com o seu público-alvo, assim você estará mais preparado para impactar as vidas deles.
Entenda “empatizar” como conhecer as os gostos, necessidades, e dificuldades dessas pessoas. É entender o que as aflige e o que as faz buscar um determinado produto ou serviço, por exemplo.
Aliás, lembra que eu falei que não há regras definidas? Isso fica bem claro na lista de métodos abaixo, que não são nem o mínimo nem o máximo que você deve fazer:
- Entrevistas, enquetes, e outros métodos de pesquisa;
- Buscas online (Google, Social Media, Analytics) sobre dados psicográficos;
- Análise do mercado em que você estará trabalhando;
- Observação do cliente no seu cotidiano;
- Criação de personas e outras fontes de dados pessoais.
E aqui eu adiciono que Design Thinkers não trabalham com briefing.
Briefs são listas de exigências enviesadas que saem da cabeça do seu contratante, não da realidade do público-alvo, ou seja: focam no pilar da viabilidade enquanto descartam o da necessidade. É um péssimo começo.
Isso não significa que você não deve ouvir seu cliente (afinal, ele conhece o business melhor que ninguém e é importante que ele goste de trabalhar com o seu projeto), mas o que precisamos ter em mente é que absolutamente nada te deixará mais perto do sucesso que o contato com o cliente final.
Se você tiver isso em mente, você já resolveu uns 50% do Design Thinking!
Como empatizar no design gráfico?
Para facilitar o texto, vamos supor que a gente está trabalhando na criação de uma logoM-A-R-C‑A.
A primeira pergunta aqui é bem simples: você vai criar a marca para o seu cliente?
Ou é pro cliente dele que você irá criar?
Se for o segundo caso, então você precisa conhecer esses clientes! Há várias maneiras de fazer isso, mas como designers gráficos costumam ter menos tempo que a galera de UX, aqui vai uma análise das técnicas para sua avaliação.
Técnica | Impacto | Tempo | Custo |
Estudo de Campo | 5/5 | Dias | $$ |
Entrevistas | 5/5 | Horas* | $ |
Enquetes | 4/5 | Dias | Ø |
Análise de Mercado | 4/5 | Dias | Ø |
Dados de Analytics | ? | Horas | Ø |
Qual é o mais importante? Entrevistas. Quantos métodos você deve aplicar? O máximo que você puder!
- O estudo de campo é basicamente observar como os clientes interagem com o estabelecimento do cliente. Tem algo que todos procuram? Uma parte da loja favorita? Há algo de especial no atendimento? Tudo isso tem utilidade!
- Alternativa: análise das redes sociais da marca e dos clientes.
- Entrevistas são conduzidas através de um roteiro de pesquisa, o qual deve ser usado com pelo menos 5 clientes para você aprender suas motivações, dores, e interesse pelo produto / serviço.
- Dica: faça seu cliente arranjar candidatos para você.
- Alternativa: tá aqui embaixo! ↓
- As enquetes são as mais fáceis de fazer, mas você precisa de bem mais gente (pelo menos 30) e, de preferência, respondidas anonimamente.
- Dica: divulgue na página / grupo do cliente.
- Alternativa: desistir do Design Thinking.
- A análise de mercado nada mais é que ver as similaridades e diferenças entre o seu cliente e os concorrentes (coisa que você provavelmente já faz), além de buscar tendências nesse mercado.
- Alternativa: desistir do design.
- Por fim, temos os dados do Analytics (Google, Facebook Audiences, etc.) que são uma mina de ouro! Eles te dão hábitos e preferências do seu público-alvo de bandeja, sendo um excelente recurso quando é impossível (eu disse “impossível”) aplicar os métodos anteriores.
- Alternativa: quer mais fácil que isso?!
Quando você tiver feito essas coisas, você deverá criar uma persona do seu público-alvo, que nada mais é que um modelo do seu público-alvo. Todo o seu design será focado em agradar essa persona.
Design Thinking Etapa 2: Definir
A segunda fase do Design Thinking é começar a criar, que é basicamente criar o seu próprio brief do projeto.
Como estamos fazendo um projeto de logo, você pode começar fazendo um resumo de tudo que aprendeu sobre o seu público-alvo, o cliente, e o mercado dele. (Coisa que você provavelmente já faz hoje, né?)
Já tem tudo isso claro? Então chegou a hora de definir o posicionamento do seu cliente! Aqui vão algumas ferramentas que servem para qualquer projeto de design..:
- Escolha de um arquétipo de marca;
- Definição de personalidade da marca;
- Escolha de tom de voz da marca;
- Definição de arquétipo de logo;
- Coletar referências interessantes; (Nessa ordem!)
- E quaisquer outros métodos que você preferir.
É muito comum que designers gráficos comecem por essa etapa, né? Na filosofia do Design Thinking, isso é uma péssima ideia, mas nada te impede de começar pelo ruim e velho briefing com o cliente antes de estudar os clientes dele.
Se ele tiver bom senso, isso fará ele ficar mais aberto às ideias que você trouxer já que elas foram contraditas pelos próprios clientes dele.
Mas enfim, acabou de empatizar com o público-alvo e definiu o projeto? (Independente da ordem.) Então chegou a hora de apresentar ao cliente!
Resumidamente, você irão discutir tudo o que foi aprendido e o que parece fazer sentido para a identidade visual dele. O objetivo é sair dessa conversa bastante ciente da viabilidade* desse projeto, assim ninguém terá frustrações ao final. (Não apenas dinheiro, mas tempo, escopo do projeto, gosto do cliente et cetera.)
Design Thinking Etapa 3–4: Idealizar & Prototipar
Como esse é um projeto de design gráfico, fica complicado separar essas duas etapas, então vamos simplesmente dizer que chegou a hora de criar!
A única questão é que design thinkers não tentam resolver o projeto de uma vez só. Os adeptos de DT começariam colando um monte de inspirações e referências, assim como desenhando inúmeros rascunhos que poderiam resolver o problema.
Por quê? Porque há várias pessoas envolvidas nesse projeto (incluindo o cliente e os clientes dele), então não faz o menor sentido tentar resolver todo o projeto de uma vez só. Tudo que for feito aqui passará por aprovações!
CUPOM: TEMPORALC-10CONTO | LINK PARA CURSAR |
Aqui vão algumas dicas que vão te ajudar nesse processo:
- Monte um board de referências que você acredite fazer sentido para o projeto.
- Faça um brainstorm intenso, com direito a rabiscos, para gerar inúmeros conceitos de logo.
- Escolha seus favoritos para então apresentar ao cliente.
Aí você pode estar se perguntando: “se eu mostrar as referências, o cliente não vai achar que eu simplesmente copiei?!”
Realmente é uma questão que você deve ponderar, mas tudo vai depender do seu cliente. Se você demonstrar que você entendeu o business dele pra cacete, é improvável que ele vá encrencar com a sua inspiração. (Fiz isso com projeto de social media e deu super certo.)
Falando em cliente, bora testar essas paradas?
Design Thinking Etapa 5: Testar
Tá confiante que as suas ideias ficaram ótimas? Problema é teu; só o cliente e os clientes dele podem dizer se elas prestam!
Nada do que a gente fizer tem algum valor sem antes ser validado por quem será impactado pelo projeto, por isso é importante que tudo passe pelo crivo do cliente e dos clientes dele. Aliás, você tem rotas opções aqui..:
- Testar tudo com o público-alvo, pois a aprovação deles reduzirá discussões com o seu cliente.
- Ou começar testando com o seu cliente, para evitar que ele descarte tudo que foi validado com o público-alvo. (Ele seria bem idiota nesse caso…)
“Tá, bem legal, mas o que é um teste?” Pois é, esse é mais um daqueles momentos que o projetista definirá a maneira mais viável de aplicar o Design Thinking. Só a sua experiência dirá o melhor caminho, mas opções incluem..:
- Apresentar todas as referências para descobrir que caminho seguir.
- Apresentar todos os seus rascunhos e ver quais têm melhor aceitação.
- Fazer tudo isso informalmente: “fulano, o que você acha desse logo aqui?”
- Arriscar direto no mundo real, criando uma versão mais elaborada e joga no mundo pra ver no que dá. (Arriscado num logotipo, porém viável com social media e outras peças mais efêmeras.)
Seja lá qual for sua escolha, você precisa ter dados reais da (in)satisfação dos clientes. Aplique as famosas notas de 1 a 5, veja as reações nas redes sociais, número de likes, conversões et cetera. Sem dados, tudo terá sido em vão!
Ah, e aqui vem um detalhe extremamente importante do Design Thinking: as famosas 5 etapas não são lineares, então o projeto não acaba aqui.
Todos os insights dessa fase vão te levar de volta às fases 4 (se der muito errado, talvez 1 e 2) para você aprimorar suas ideias — e assim o processo vai se repetindo até você criar um design sólido que não precise de mais testes.
Exemplos de Teste de Design Gráfico
O mais legal dos testes é que eles facilitam as suas decisões e reduzem as discussões. Eu já fiz e já presenciei alguns excelentes exemplos de testes de DG:
- Em projetos de social media, eu arrisco diferentes identidades visuais nos posts do dia-a-dia.
- Ao fazer posts para ads, testo cores, fontes et cetera para ver quais vendem mais.
- Em projetos de projetos de naming, a galera da Sebastiany Branding cria enquetes no Google Forms e coletam dados em grupos do Facebook.
- Ao definir a nova tipografia da OFF Premium, eu criei um Forms com várias fontes em várias interfaces para alinhar os designers.
- Há também quem coloca vários logos em formulários e pedem diversas opiniões em cada um. (“Qual é o mais sério? Qual parece mais premium?”, etc.)
O negócio é ser criativo, seja invadindo a loja pra conversar com cada cliente ou criando um puta processo digital que automatize tudo. Se os dados forem reais, tanto faz a origem!
“Caramba! Quanto tempo leva isso tudo?”
Como deve ter ficado bem claro, é você quem decide se isso vai levar alguns dias ou semanas. O framework é teu e você faz com ele o que quiser!
A única coisa que importa é que você tenha CER-TE-ZA que está criando algo que agrada o seu público-alvo. Eu sei que isso é difícil no design gráfico (principalmente em rotina de agência), mas se o seu design se baseia no teu gosto e do teu cliente, a verdade é que você não está fazendo design.
Provavelmente o seu processo criativo vai demorar um pouco mais depois de aplicar o Design Thinking, mas a boa notícia é que ele vai melhorar muito também, então aplique tudo que puder.
Pensamentos Finais
Eu já começo falando para você deixar um comentário caso tenha dúvidas do processo. Sério, eu respondo logo, logo. 😉
O que eu posso adiantar pra você é que não dá para aprender DT sem fazer. Quanto mais você fizer, mais fácil e rápido o processo ficará, então comece já!
Outra garantia que eu te dou é que seu trabalho e relação com os clientes vai melhorar muito se você fizer tudo direitinho. Grande parte dos problemas do design gráfico é que tudo é visto como mera arte, mas quando você envolve pesquisas e testes no processo, a parada ganha outra seriedade.
Fico no aguardo das suas dúvidas, sugestões, e feedbacks nos comentários. Boa sorte!