“Como aplicar a proporção áurea no design” é uma das pesquisas mais comuns dos designers, e eu sinceramente admiro quem pesquisa isso:

Aplicar um princípio matemático ao seu trabalho mostra que você não é um desocupado que “faz tudo em 5 minutinhos”, mas sim um projetista sério que não pode ser substituído pelo sobrinho daquele cliente escroto.

Eu acho a sua preocupação justíssima, mas fica a pergunta: será que a proporção funciona mesmo? Por que designers lendários nem falam dela?

Eu procurei a opinião de 6 Doutores em matemática para encerrarmos essa discussão, mas aqui vai um conselho meu que independe da conclusão: continue usando ela de qualquer jeito!

Se imagine entrando numa sala e encontrando duas pessoas a desenhar um foguete, mas uma desenhou freestyle e o outro empregou altos grids na criação. (Como visto acima.) Qual dos dois você acha que chamará mais atenção da turma toda?

É óbvio que a versão com grid é que vai render apelidos como “gênio da sala”, uma vez que o ser humano não é naturalmente inclinado ao pensamento lógico-matemático.

É uma conclusão lógica que a sequência de Fibonacci valoriza o seu portfólio (principalmente aos olhos dos leigos [clientes]), te fazendo parecer mais profissional e até mesmo possibilitando cobrar um cadinho mais. (Eu faço exatamente a mesma coisa!)

“Se a proporção áurea for falsa, estou trapaceando o cliente?” Depende: se a você colocou depois que terminou o job, é óbvio que sim. Se você projetou com ela, óbvio que não!

Dica dada, vamos falar de ciência.

Teste científico sobre a proporção áurea [1]

Um estudo da Monash University preparou 7 desenhos diferentes com quatro variações de proporção para cada um, sendo uma delas a proporção áurea de 1.618033988…

O objetivo: descobrir se as pessoas prefeririam a proporção áurea, e também se uma hipótese antiga de que as versões verticais se destacam mais que as horizontais é real.

O resultado: 5 dos 7 desenhos preferidos e todas as suas variações (71%) passaram longe do número de Fibonacci. Além disso, a suposta preferência pelo formato vertical do retângulo áureo (o que justificaria seu uso em cartazes) também falhou miseravelmente.

Mas algo interessante ocorreu: os únicos dois desenhos preferidos em Fibonacci eram o desenho de um mar e o outro uma flor.

Conclusão: como o número 1.618 parece aparecer em tudo que é canto na natureza, é de se esperar que a sequência de ouro se destaque mais neles do que nos abstratos.

Mas há alguns problemas na conclusão: isso realmente parece uma flor e um mar para ti?

A diferença de preferência entre as ondas em 1:1 (quadrado) e em 1.68 (Fibonacci) foi de apenas 10%. Já no caso da flor, a versão 1.23 (bem acima do Áureo) perdeu por apenas 25%. (Se fossem eleições, haveria segundo turno em ambos os casos.)

29% de sucesso não é pouco demais para um princípio universal de beleza? Aliás, vale uma analogia:

Nós gostamos de pessoas com dois braços, duas pernas e uma cabeça. Isso quer dizer que nos apaixonaríamos por bonecos de palito caso tomassem vida?

É claro que não, logo é difícil acreditar que alguém curta 3 riscos brancos em um retângulo preto porque eles têm uma vaaaga semelhança com ondas.

Os próprios cientistas admitem que não devemos tomar como verdade absoluta pois…

• Eram apenas 4 variações por desenho, então não há garantia que os resultados seriam iguais se fossem 10 artes/cada, por exemplo;
• O estudo foi conduzido com poucas pessoas, e tooodas elas eram universitárias, o que é uma representação muito reduzida da sociedade.

Vale também falar que outros experimentos com a proporção áurea falharam: 

É bastante ridículo, típico de pseudo-ciência, e até soa meio podre ao se tratar de matemática.\’ ” style=“style-13” align=“center” color=”#62366f” author_name=“Dra. Eve Torrence” author_job=“Dpt. of Math @ Randolph” author_avatar=“https://temporalcerebral.com.br/wp-content/uploads/2018/05/sequencia-de-fibonacci-e-falsa-retangulo-de-ouro-dr-eve-torence.jpg” author_link=“https://www.independent.co.uk/news/science/mathematicians-dispute-claims-that-the-golden-ratio-is-a-natural-blueprint-for-beauty-10204354.html”][/bs-quote]

• O Dr. Markowsky (de Harvard) demonstrou que a proporção áurea não está no corpo humano, nem nas pirâmides e outros cantos que dizem que ela está.

• Já a Dra. Priya Raghubir da Universidade de Berkeley testou uma série de produtos / embalagens em diversas proporções, dentre elas o retângulo de ouro.

O resultado? Tão desprezível que ela sequer citou em sua conclusão, logo abaixo:

Mas sabe o pior dessas provas?

É que eu admito continuar inclinado a usar o grid áureo (nos casos do 1° estudo). Por quê?! Porque estou sendo vítima do maldito Viés de Confirmação.

Esse fenômeno psicológico faz que você interprete as informações de maneira com que elas confirmem o que você acredita ou quer crer. Exemplos de Viés Confirmatório incluem..:

• “Chove toda vez que eu esqueço o guarda-chuva.” (Ignorando as vezes que não chove.)
• “Meu time sempre ganha quando uso essa roupa.” (Ignorando as vezes que perde.)
• “A USP encontrou a cura do câncer.” (Ignorando todos que morreram tomando.)
• E um outro Viés de Confirmação bem comum é que..:

“Proporção Áurea na Natureza” [2]

O vermelho é a cor mais quente de todas, enquanto o azul é frio como o inverno, não é? #SÓ QUE NÃO!

A real é que o vermelho é a cor mais fria de todas, e basta acender um fogão para notar isso: veja como a chama é azul na base (ponto mais quente) e vai ficando vermelha até sumir.

Veja esse gráfico de cores onde o azul se mostra 30 vezes mais quente que o vermelho.

Ainda não acredita que o azul é uma cor quente? Eu preparei um gráfico pra ti, mostrando porquê o céu é azul de dia (hora mais quente), porém vermelho quando tá esfriando.

As ondas curtas são mais “densas em calor”, e o dia acaba ficando mais quente porque várias delas estão nos alcançando ao longo do dia. (Novamente, simplificação enorme.)

Pense na onda de luz como aquela piada de se “o que pesa mais é um quilo de chumbo ou um quilo de algodão”. Assim como o chumbo pesa mais em um espaço menor, a cor azul é mais quente em um comprimento de onda menor.

“MAS O QUE TEM A VER, CARA?!”

É que você aprendeu que o vermelho é quente, tem até estudo mostrando que ele dá sensação de calor, mas é tudo coisa da sua cabeça. Assim como o que falam da temperatura das cores está errado, 90% das imagens de proporção áurea na natureza são falsas.

Tudo se resume ao seu cérebro desesperado para encontrar lógica no universo, se valendo inclusive do Viés de Confirmação para interpretar tudo como convém. (Sem contar algumas montagens, é claro.) Aliás, você com certeza já observou esse Viés discutindo política: a outra parte sempre interpreta o que você diz como bem quer, não é mesmo?

Sim, o número de ouro até ocorre na natureza, mas MUUUITO menos do que se diz por aí! Talvez o exemplo mais corriqueiro seja a casca do Nautilus, que é bem fraquinho:

“A espiral do Nautilus está bem longe do Retângulo de Ouro. Na verdade, está muito claro que os dois simplesmente não combinam até porque a Sequência sequer ‘espiral’ o suficientes para isso.”

— Dr. John Sharp, matemático e autor de “Espirais e o Retângulo de Ouro”.

Vale também ler o artigo da FastCo mostrando que a origem da Proporção Áurea é um mal-entendido que não tinham qualquer valor antes do século 18.

E a palavra “mal” cai bem aqui porque a Dra. Pamela W. Henderson testou o efeito psicológico das proporções em logotipos e sugeriu que Fibonacci pode facilitar falsas recognições. (Propensão a confundir uma marca.)

O que é uma má notícia para a Samsung, já que esse passo-a-passo aqui mostra que NUNCA houve proporção áurea no logo da Apple. 😮

Na verdade, o logo da Apple foi feito com bom senso e simetria, o que bate com o estudo do Dr. Jay Friedenberg demonstrando não haver “efeito proporção de ouro” em seus estudos com dezenas de pessoas.

(E eu espero que você tenha notado que eu forjei o retângulo no fogão…)

Então a Sequência de Fibonacci é mentira? [3]

A gente pode dividir o terceiro e último ponto a partir de três análises lógicas, e só uma das três é favorável a validade de uso da proporção áurea. Vamos lá:

A matemática do retângulo de ouro

Quanto é um 1+1? 5+5? E 25+25? Concordamos que os resultados são 2, 10 e 50, correto? Esse é o bom da matemática: nenhum doutorado no mundo jamais provará que 1+1 dá 9.

Então por que tantos matemáticos escorraçam esse número mágico tão simples? Não é ousadia demais vinda de doutores? (Que são pesquisadores, e queimar o filme entre outros doutores significa fechar muitas portas.)

O que podemos concluir aqui é que, pode até haver matemáticos que acreditam na sequência de Fibonacci, mas o consenso é fraco demais para algo que seria tão óbvio.

Assim não dá… Próxima tentativa!

A biologia da sequência de Fibonacci

Concordamos que 1+1 sempre dá 2, certo? Podemos concordar também que contas de adição nunca resultam em equações de foderésimo grau, e que essas equações não poderiam ser resolvidas com a mesma lógica e esforço das contas de adição?

Se o retângulo de ouro se enraizou na natureza, isso significa que..:

1. Essa foi a maneira mais eficiente que a evolução descobriu para os animais viverem;
2. E que a mesma lógica matemática que afeta a aparência do animal, também rege a biologia interna do mesmo. (Afinal, não tem como ser uma coisa por fora e outra por dentro.)

Com isso esbarramos em duas questões lógicas gravíssimas:

• A primeira: Por que ainda não curamos todas as doenças se a biologia se guia por um cálculo que até o pessoal de humanas consegue fazer?

Bastaria descobrir “o número de uma doença” usando um computador foda, assim como quando calculamos o Pi, e assim providenciar alguma cura usando essa lógica tão simples.

• A segunda: Se tooooodos os animais estão seguindo essa sequência matemática (o que é absurdo pra qualquer um que estudou o mínimo de evolução das espécies), isso significa que quem sair desse padrão matemático terá uma enorme vantagem sobre os outros animais.

Porém basta analisar uma girafa e fazer o cálculo de Fibonacci nela toda para ver a Proporção falhar miseravelmente. Nada se aplica alí, e ainda assim as girafas não se destacam em nada.

Então sim, aaaaaas vezes a proporção áurea aparece na natureza, mas de fato é bobeira acreditar que uma lógica tão básica como 1.618 rege o universo. Quem dera todos as questões do universo pudessem ser tratadas com um cálculo que até o pessoal de humanas consegue entender!

A psicologia do proporção áurea

Incrível essa imagem do cérebro no retângulo áureo, né? Tudo se encaixa tão perfeitamente que simplesmente não tem como argumentar!

Exceto pelo de que eu falsifiquei essa e todas as imagens com a proporção áurea nesse post.

Enfim, a terceira e única possibilidade por trás dessa “matemágica” é que algumas pessoas poderia estar se habituando à proporção. Tem tanto designer espalhando a sequência de Fibonacci por aí que algumas pessoas poderiam estar internalizando sua lógica e desenvolvendo certa preferência por ela.

Mas ainda assim é de se duvidar: vivemos sob um céu azul todos os dias e nem por isso ela é a cor favorita de todos. Negros fazem parte da vida de todos, mas o preconceito segue forte. Uso tela quadrada todo dia, mas ainda prefiro bordas arredondadas.

É meio forçoso acreditar que vai ser um retângulozinho que a gente vê em meia-dúzia de designs que vai fazer uma puuuta diferença na nossa psiquê. Como alguém que estudou neurociências, eu diria que isso beira ao impossível.

E agora? Paro de usar o retângulo áureo?

Quem sou eu para mandar na sua vida? Se você se sente seguro e mais produtivo usando ele, arregaça aí nos teus grids e pronto!

Esse artigo não foi escrito para mandar em ti, mas sim para dar um alívio à tanta gente que às vezes aparece se lamentando por não ter aprendido a sequência de Fibonacci. Então se você for um desses milhares pesquisando “como usar a proporção áurea na arquitetura”; “proporção áurea design gráfico” ou simplesmente “como usar a proporção áurea?”, talvez a melhor resposta seja: “nem perca seu tempo aprendendo”.

Tudo indica que a grande função da Seção Áurea é apenas te dar uma base, assim como um grid modular te dá noções de distribuição no layout. O designer garante que não tá fazendo nada torto, consequentemente fazendo um job mais bonito e tendo a ilusão que descobriu a lógica matemática do universo.

Se EU vou continuar usando a proporção áurea? Sim, mas com a mesma frequência que eu uso a regra dos terços, grids modulares e etc… só mais um método qualquer no meu arsenal! 😉